Vídeo do personagem ‘Otário’ já teve mais de 2 milhões de visualizações no Youtube Foto: Reprodução da internet
A
carga tributária pode não ser a única vilã do consumidor. Em 2012, o
Otário Anonymous – personagem que representa um brasileiro que não se
conforma com vários problemas do país – lançou o vídeo “Gol 1.0” no site
Youtube, que já teve mais de dois milhões de acessos. Nele, o autor do
personagem – que não aceita se identificar por motivo de segurança, já
que faz críticas a várias empresas — afirma que, além dos impostos e dos
juros, em caso de financiamento, os lucros das empresas também
contribuem para o alto valor do automóvel.
— É preciso ser muito
otário para comprar um “Golzinho completo”, ou outro carro equivalente,
no Brasil, sabendo que, nos Estados Unidos, seria possível adquirir um
Camaro pelo mesmo valor. A única coisa que precisa mudar é a cabeça do
brasileiro, que acha tudo normal. Uma vez que as pessoas parem de achar
tudo normal, o resto vem junto, como redução de impostos e fim de lucros
abusivos. A principal bandeira que levanto em meus vídeos é o boicote.
Acredito que o boicote é a arma mais eficiente que pode ser utilizada
pelo consumidor para não ser feito de otário ao comprar produtos ou
contratar serviços.
Por medo de represálias, o autor do personagem Otário não aceita se identificar Foto: Divulgação Otário reafirma o que diz em seu vídeo, ao criticar os valores dos carros no país:
—
Supondo que o custo de produção de um carro popular como o Gol 1.0 seja
de 9 mil reais, aplicando-se 30% de impostos + 30% de lucro das
montadoras + 30% de lucro das concessionárias, teríamos um preço justo
de aproximadamente R$20 mil e não de R$32 mil, como é vendido
atualmente. E olha que eu estou sendo muito conservador, pois as
montadoras brasileiras dizem que sua margem de lucro é inferior a 10%.
Tanto os impostos, especialmente os em cascata, como os lucros das
montadoras e concessionárias são os maiores vilões.
Setor afirma que lucro é inferior à média mundial
Não
é possível, no entanto, provar que o raciocínio está totalmente
correto, uma vez que o custo real de produção de um carro e os
percentuais de lucros das montadoras e concessionárias são
desconhecidos. Além disso, o cálculo dos tributos são muito mais
complexos
Associações de fabricantes e concessionárias ouvidas pelo EXTRA rebatem a afirmação de que os percentuais de lucro são elevados.
—
Entre 2004 a 2011, nós tivemos uma rentabilidade menor, em percentual,
do que a média mundial, que está em torno, hoje, de 3,2% - disse Luiz
Moan, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea).
Flávio Meneguetti, presidente da Federação
Nacional da Distribuição de veículos automotores (Fenabrave), endossa a
crítica ao percentual de impostos no país e também defende as
concessionárias em relação à lucratividade.
— A carga tributária
está entre 35% e 37%, dependendo da cilindrada. É uma das mais altas do
mundo. E pior de tudo é que você paga imposto sobre imposto. É o único
país do mundo que bitributa. Quanto ao lucro, a margem bruta média atual
é de 7%. Com esse lucro bruto, o dono da concessionária ainda paga
aluguel e outras despesas. Então, o lucro líquido fica, em média, entre
1% e 1,5%.
Gilberto Braga, professor de Economia do Ibmec, explica
que a margem de lucro das fabricantes é, oficialmente, desconhecida
porque as montadoras são controladas por empresas estrangeiras.
—
Por isso, essas empresas não têm obrigação de divulgar essas informações
por aqui. E também não temos como saber o preço de custo. O que a gente
sabe é que o preço de custo no Brasil é mais alto por causa dos
tributos.
Legislação tributária prevê margem de lucro de 30%
Embora
os percentuais de lucro não sejam divulgados, a própria legislação
tributária brasileira dá uma pista da margem média com a qual as
empresas devem trabalhar. José Jayme, professor de MBA em Direito
Tributário da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica, por exemplo, que o
cálculo do ICMS leva em conta uma margem de valor agregado (MVA) de
30%.
— A margem é o percentual estimativo correspondente à
lucratividade que a concessionária deve obter na venda do veículo, e que
possibilita o cálculo, pela montadora, do ICMS incidente na operação de
venda que a concessionária vai realizar. Cabe enfatizar que o ICMS é
imposto incidente sobre o consumo, o que significa dizer que é o
consumidor final que suporta seu inteiro ônus.
Segundo cálculos do
especialista tributário Claudemir Lima, da JJA Consulting, o preço de
custo de um carro à venda por R$ 32.710 (como o Gol 1., pesquisado pelo
EXTRA) numa concessionária do Rio é de R$ 21.154. O cálculo foi feito
retirando-se todos os impostos sobre o valor de fábrica - exceto os
incidentes sobre folhas de pagamento – e, ainda, os que incidem sobre o
lucro, como o Imposto de Renda sobre Pessoa Jurídica (IRPJ) e a
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)